197
20 de julho de 2014Ainda estava calor. Ainda se ouviam os miúdos ao longe, a correr para trás e para a frente em volta dos aspersores que alguém se esqueceu de desligar. E a cada passo, pesava ainda a chuva da noite anterior. A realidade consegue ser tramada, quando quer, e era enorme o vazio que se fazia sentir. Um vazio insuportável. Um vazio consolador, por estranho que pareça. Antes um ponto final que um desfecho reticente.
Mas sabes, cada vez mais acho que não existe tal coisa. Que nada muda, e que nada acaba - pelo menos não da forma que insistimos em perpetuar. Andamos, mesmo quando julgamos estar parados. Sem rumo, à procura de um qualquer sentido, muitas vezes até andamos sem nós. É um vazio consolador, por estranho que pareça.
Acendem-se as luzes no céu, e ainda está calor. Passo a passo, caminho para aquilo que sei ser o fim. Para aquilo que me lembro como se fosse ontem, ainda hoje. Desisti. Continuei a andar. Andei até me esquecer que o fiz. Até não me lembrar do que me levou a fazê-lo.
Acho que não funcionou.
Esta coisa da poesia não dá grande resultado na vida real.