Chuva

6 de novembro de 2011

Sonhei contigo outra vez, hoje. Era de noite e a chuva não parava de cair. Não sei bem onde estávamos, era um local familiar mas ao mesmo tempo distante, característica realidade de quem dorme, distorcida por pedaços de memórias arrancados pela raiz e reorganizados de forma aleatória, era estranha, era estranha e porém eu conhecia-a inteiramente, sabia tudo o que havia para saber acerca dela, árvores a crescer em alcatrão e ruas sem fim de repente faziam sentido, ainda que não o fizessem na verdade.

Estava frio. Sei-o pelas roupas que vestias, pelas mãos que não paravam de tremer por mais que tentasse, não o sentia, pouco interessava tão inútil sensação, mas tu, tu abraçaste-me por causa disso, perguntaste-me se eu estava melhor assim, e porquê, porque é que até em sonhos elas insistem em cair, o quão ridículo isto é, que eu sou, estava à espera de quê, é apenas natural, porque é que havia de ser diferente, porque é que havia de ser capaz de te sentir quando o mundo não passava de uma absurda fantasia?

Desconheço o que te tinha trazido ali, o percurso daquela alucinação, e tudo porque não me lembro, simplesmente. A normalidade reside nesse esquecimento e todavia tal não acontece quando tu entras em cena, tentativas atrás de tentativas de fazer desvanecer a tua imagem somente a tornavam mais manifesta, eu não sei o que dizer e não, eu não percebo, recuso perceber, evidentemente, embora contestável se o é consciente, qual é o rumo, para onde é que se move… talvez o futuro abra caminho para um sítio diferente?