Disperso

6 de janeiro de 2010

Estás aí?

Eu, tu, e tudo o resto. É isso que sinto quando és tu, que não és somente tu, mas que trazes atrás tudo o resto. Não te chego, ou simplesmente não consegues existir em ti mesma? Talvez seja mesmo eu, não sou senão fragmentos de memórias acumuladas, perdidas, dispersas, e talvez, talvez seja eu…

Não vou negar quem sou apenas para ser transformado noutro não-ser, que já basta o que tenho agora, a arder, a rasgar, a sofrer, porque ao menos, ao menos esse é verdadeiro, de entre todas as teias de ilusões de que nos tentamos soltar dia sim e dia sim, ao menos esse é verdadeiramente não-meu, todo esse todo de memórias minhas e soltas e loucas a que eu dei a forma do meu Eu…

Ouves isto?

Uma disputa de sons silenciados, uma luta maquiavélica de murros e pontapés no ar, contra o ar, e o ar responde, nada faz, nada se ouve, nada se sente, e ao mesmo tempo todos aqueles não-eus que lutavam se desvanecem num mar de inexistências natas, essenciais para toda a nossa existência ainda por existir.

Desaparecem, pura e simplesmente, mas duma maneira muito longe da simplicidade, desaparecem não por quererem desaparecer mas exactamente pelo contrário, porque lutaram contra isso, tal como eu luto contra isso agora, desaparecei eu também, ou não queres tu saber de mim o suficiente para tal acontecer?