Dois
1 de setembro de 2015Os passos curtos e a brisa leve, a agitação de fundo, a apagada vontade em algo que não, eu, e tu, nem a noite nos chega quando a lua se põe, quando o mundo inteiro gira em torno de si próprio, desfiando cautelosamente o seu eterno novelo. Este momento, esta colecção de segundos e palavras dispersas, perdidas, não é senão nosso, da nossa autoria e encargo; é ele que vemos quando fechamos os olhos e é ele que ouvimos quando a realidade nos escapa, para sempre, e cada dia mais distante. Mal me lembro de mim ou do caminho que nos arrastou, consola-me apenas saber que existiu, e que existe ainda, furtivo, num sítio que ambos partilhamos. Agora, volta, sem olhar para trás, sabendo inteiro o que se viu esquecido, olvidado por ausência de melhor remédio, e vive, somente, da forma que sempre o fizeste, da forma que o melhor conseguires.