éden (1)
4 de julho de 2009Parecem enamorados. O modo como ela o olha, como ele a reflete, se eu não soubesse o que sei, diria que estavam enamorados. Sei-o, no entanto, e talvez não o saiba ao todo, Onde estou, Porque estou, pergunto-lhes mas ignoram-me, mantêm a solenidade que os faz, que os une. Chove, também aqui, não a sinto mas ouço, que será este lugar, pondero milhentas respostas, quiçá uma estará correcta. Fizeram-me preso, por mais que ande no mesmo sítio fico, por mais que grite uma resposta não obtenho, estarei condenado para o resto da minha vida a presenciar tal alucinada paixão?
Não… não pode, tem que haver uma razão, será destino, será vontade de Deus, será sei lá quê, resido agora no cimo de um oceano de vidro não por feitiço ou maldição, isso o sinto, mas por algo diferente, sei-o porque não temo, e se ao estar entre um casal de fingidos amantes não me chega o medo, é sinal que ele aqui não tem lugar. E o que terá, tirando nós os três, ou simplesmente eu, que parecem eles paisagem? Já não espero por respostas às minhas perguntas, faço-as simplesmente por fazer, porque não consigo evitar, porque me consolam de certa forma, e como me consolam, se não fizer perguntas o que farei, neste infinito fim, o que farei?
A chuva piorou, noto-o pelo som dela a bater em algo familiar, veio acompanhada de algo diferente desta vez, uma voz, duas aliás, repetem-se sem parar, as suas palavras ecoam nas invisíveis paredes que me rodeiam, melodias hipnotizantes deste meu sonho.
Vejo-te, Lua
Vejo-te, Mar
Abertos os olhos, estranho a enorme clarabóia que me cumprimenta logo de madrugada, lá fora chove torrencialmente, Onde é que estou, recordo-me vagamente do que me trouxe aqui, carrego-me até às portas envidraçadas que dão para a varanda do quarto, é mesmo verdade, afogo os olhos em azul, claro indício de que não estou onde estive toda a minha vida, claro indício de que a minha realidade mudou. Esperei tanto tempo pelo dia de ontem, pelo dia em que pudesse deixar para trás tudo o que tomei como certo durante tantos anos, parte de mim ainda não acredita no que aconteceu.
Mas é verdade, tudo o que abandonei, tudo o que senti ao o fazer, nada disso pode ser falso, nunca me conseguiria iludir tanto, e se conseguisse, certamente que terias vindo comigo.