éden (3)

17 de julho de 2009

Acordei pois, ou penso eu que sim, acho que não sofro de sonambulismo, quem saberá com toda certeza, bom, não faria muito sentido conseguir pensar em tudo isto se estivesse a dormir, confirma-se portanto que estou acordado se porventura alguém estivesse duvidoso desse facto, E daí não estás com grande cara, estás mesmo acordado, sim, sim, não vamos continuar com isto, estou mesmo acordado, ainda que o Sol me impeça de o demonstrar, habitual mudança de tempo pelo que parece. Levo as mãos aos olhos, melhor, já lá as tinha sem reparar, E então, descerro-os vagamente e fez-se luz, cliché eu sei, foi como me senti, útil tendência para a dramatização, deparo-me com uma silhueta feminina, Passa-se alguma coisa, não, não é isso, embora quase pareça que sim, de tão irreal que é.

Conheci-a ontem à noite quando cá cheguei, após horas de andar perdido pelo meio da cidade, é um estranho sítio este, nada parecido com aquele de onde vim, tinham-me já falado dele mas palavras não lhe fazem justiça, vá-se lá saber o que fará, os sonhos talvez, embora sirvam apenas para quem os conseguir ter. Afoguei-me, num lugar onde até a mais miserável luz inundava o mundo em sua volta num brilhante mar de fantasias, afoguei-me, não nos canais que permitiam tudo isso, mas na beleza assombrosa que não me deixava chegar ao meu destino.

E que destino esse, esse que me trouxe aqui, demasiado convoluto para a minha cabeça matinal, basta dizer que me trouxe perante uma rapariga, penso que uns anos mais velha que eu, estava também a viver na residência de estudantes para onde me dirigia, não sei bem qual é a situação dela, não lhe perguntei, mesmo se quisesse, duvido que teria conseguido, pouco faltava para cair para o lado que mais me pesavam as malas. Agora que penso, é um bocado esquisito que só estejamos nós os dois numa casa tão grande, disseram-me que iríamos ser quatro pessoas, a rapariga informou-me que uma delas tinha mudado de ideias, não me falou da outra, ou se falou, não me lembro, pergunto-me o que se terá passado, embora sendo honesto, prefiro que assim seja, é de maneira que ambos temos mais liberdade.

Não te lembras do meu nome, aposto, e teria ganho, é uma sorte recordar-me do que quer que seja que se tenha passado ontem à noite, Sara, Não, Lara, Não era mais fácil admitires que não te lembras, nunca fui grande admirador de admitir derrota, Joana, Foi completamente ao acaso, não foi, De que é que isso importa, muito, sempre achei de mau grado não recordar o nome das pessoas, perdoem-me esta. Começa a soprar o vento, noto agora que ainda não me vesti, hábitos antigos, volto ao quarto e começo a escavar as malas em busca de roupa, tenho que arrumar isto tudo logo à noite, ainda vou cá viver por algum tempo.