éden (5)

14 de novembro de 2009

Silêncio. Um tanto constrangedor, mas as palavras não saem, não querem sair, talvez não sintam necessidade, talvez achem que no meio de tanto barulho o silêncio deva reinar, há já tanta agitação pela cidade a esta hora, talvez tenham razão. É espantoso, nunca tive a oportunidade de assistir a tal espectáculo, de onde vim era tudo tão impessoal, tudo tão dolorosamente tediante e sem cor, completamente diferente do que se vê aqui… é uma comparação inesgotável, eu sei, mas é impossível não a fazer, cada um define a sua própria realidade e esta é-me tão premente, tão minha, que não consigo separar-me dela sem que ela me leve atrás, esta parede incontornável da mudança, este maravilhoso mundo novo…

Continuamos a andar sem grande rumo, seja apenas por impressão minha ou não, e as ruas ficaram estreitas de repente, onde é que estamos a ir, porque é que não o sinto, o receio, o medo, porque é que não sinto nada disso, algo me leva a confiar nela mas não o sei explicar, será sequer possível fazê-lo, deixo-me levar enquanto organizo os meus pensamentos, ou finjo fazê-lo, embora verdade seja dita que não haverá grande diferença entre os dois, vou segui-la de uma maneira ou doutra.

 “Chegámos!”

O relógio marca os dígitos zero, oito, três, zero, ao mesmo tempo que faz um barulho insuportável, já me tinha esquecido do que era ter aulas de manhã, desço até à cozinha para tomar o pequeno-almoço, parece que ela já saiu, anda-me a evitar desde aquele dia, não percebo muito bem o que vai pela cabeça dela, tento não o tentar. Está alguém em casa, estranho, uma pessoa a esta hora, era um rapaz, ou pelo menos é o que aparentava ser, no meio de tantas malas mal conseguia ver bem o cujo dito, Sim, estou aqui, Ah, és um dos estudantes que está cá a viver, Não, estou só a roubar-lhes comida, O quê, Sim, estou a morar aqui, porquê, Estás a roubar-lhes comida, Não, eu moro aqui, o que é que precisas, Ah, eu venho estudar para cá, sou o Tiago, Estudar, vens já um bocado atrasado, as aulas começaram a semana passada, Não pude vir mais cedo, Bem, tu lá sabes da tua vida, eu tenho que estar na escola daqui a vinte minutos, vou indo, Espera, sabes onde é que é o meu quarto, Não faço ideia, escolhe um qualquer, depois se quiseres, pergunta à rapariga que entrar por aqui a dentro com um ar amuado, chama-se Sara, Espera, O que é que foi agora, Não me disseste o teu nome.

“Sou o Daniel.”