O Homem Que Destruiu o Mundo
24 de fevereiro de 2013Respirava, uma e outra vez. Vivia, apesar de tudo, abrindo os olhos para o espectáculo de luzes que podia agora admirar livremente a cada passagem da lua. De braço estendido até ao céu, sentia o ar a escapar de si quando cerrava o seu punho, o inerente vazio de tudo aquilo que não conseguia alcançar e a insuperável distância entre os seus desejos e a sua compleição. Se não era tristeza, mais o era uma letárgica apatia de uma realidade que embora não se furtasse, revelava-se um tanto pesada demais para abrigar.
Ninguém lhe havia desejado tal destino – tão abominável encargo não coube senão a ele próprio. Ele era, Livre, no seu julgamento turvado por toda uma incontrolável demência. Mórbidos eram os sonhos que o mantiam acordado durante noites a fio. Incontroláveis visões de coisas e de pessoas que jamais poderiam ter lugar no cenário envolvente. Ele existia, é certo, mas cada vez mais se questionava se o era, realmente.
No final, sabotado por quem mais confiança viu em si depositado, ele limitou-se a fazer única coisa que alguma vez soube fazer. O homem que destruiu o mundo, fê-lo não por ódio ou algo similar, mas por se ver ausentado de uma alternativa. Para ele, e quiçá se apenas na sua incontornável limitação, aquele era o único rumo possível.
Atentar os destroços do que havia sido outrora, que roem, por dentro, até que não haja mais dentro por onde roer, saber que os pés estão onde estão e que as mãos têm o poder que têm vale o que vale, o céu é o mesmo e o caminho inverso não é de possível travessia. Ele segue o que tem a seguir, faz o que tem a fazer, e respira, uma e outra vez, vivendo, apesar de tudo, porque construir um mundo novo não tão fácil quanto devia.