O Ruído do Silêncio

22 de agosto de 2011
O que é que estás a fazer? Para onde é que estás a olhar? Estás à espera de alguém?

À espera? Sim, talvez seja isso, eu estou a espera de alguém, de alguém que não chega, de alguém que nunca vai chegar, talvez esteja à espera dessa pessoa, de mim, e de ti também, tu que desconheço e que me fazes perguntas tais. Eu estou à espera do tempo, o tempo que espera por ninguém, quero perguntar-lhe, Porque é que és assim, Porque é que não mudas de vez em quando, Porque é que não paras, duvido que me responda, as coisas são como são e ele é como é, não há muito que se possa fazer para o mudar. Eu estou à espera do sentido, da justificação para tudo, para nada, da última peça do enigma que é o mundo, quero compreender a razão de ser das coisas, compreender que tal conceito não pode existir numa aleatoriedade tão perfeita, num caos tão subtil.  E eu estou à espera.

Alimentam-me as horas perdidas, os raciocínios soltos, não sei que fazer mais se não pensar, lembrar tudo aquilo que foi, imaginar tudo aquilo que poderia ser, o detalhe exponencia a dor mas é ela tudo que eu tenho, o calor, o cheiro, o toque, tortura irremediável para um sonhador. O que eu quero, ou o que eu faço, expectativas desmedidas encontram o seu lar entre possibilidades impossíveis, pedaços de esperança mais frágeis do que o ar, a realidade é um sítio agreste para quem insiste em não viver nela, e eu não me estou a safar muito bem.

Eu estou à espera, sim, mas daquilo que vier, de uma noite em paz, de um momento de silêncio, a agonia é cansativa e eu estou cansado, não consigo escapar de mim tempo suficiente para não ser quem sou e eu estou cansado de o ser, chega, por favor. Chega.

Quem és tu? Porque é que falaste para mim? Entre tantas outras pessoas neste sítio, todas elas à espera de algo, porque eu, em particular? Porque é que estás aqui? Estas fantasias não têm fim e estes monólogos estão a tornar-se aborrecidos, pára, eu não preciso de ajuda, nunca precisei, eu sei o que estou a fazer, melhor do que tu, melhor do que eu, e asseguro-te que não preciso de ajuda. Não tentes, sequer, não quero que o faças. Esta dor é minha. Deixa-me ser quem sou. Deixa doer.