sobre ir
5 de abril de 2022Tanto tempo quanto lhe dás, mais rápido ele vai. Até bater de frente e parar de uma vez só, desalmado, a saber melhor que ninguém o que o espera ou a ideia apenas, entre muitas outras a mais provável. O universo inteiro a convergir noutra direcção e ainda assim ele vai. Se nem o cosmos, qual é a chance?
É indiferente. É natureza, apenas. Não saber como também é razão. Vezes que foi, e parou, e morreu e próprio se olhou com o sufocante desdém de que fosse possível ser assim, e se levantou para o ver depois na madrugada de mais um dia. A máquina que o move não faz ideia, nem sequer conhece melhor.
Irremediável, assim. A esperança de aprender vê-se consumida no alento implacável em que a loucura se acha branda, no tamanho húbris que o informa. Aquele que não muda. Ele, que não cresce. Declama-o com todo o ar dos seus pulmões e responde-lhe no fim. De que vale uma chance se não for arrancada do mesmo tecido que forma os céus e agarrada com as minhas próprias mãos?