Sombra de um Abraço
17 de fevereiro de 2009“Lembro-me como se fosse ontem.”
Mas não foi ontem… todos aqueles momentos, todos aqueles dias que passámos ao relento em busca das luzes que a noite insiste em espelhar, nada disso foi ontem, pois não? Por vezes, depois de sair da escola, dou por mim a passar por lá – acho que parte de mim ainda acredita que as coisas podem voltar ao que eram, que tu ainda podes… sabes?
É estranho, mas não é algo que consiga mudar assim de um dia para o outro. Aconteceu tudo tão de repente, e ainda não fui capaz de parar e absorver a realidade. Acordo muitas vezes a acreditar que ainda estou lá, que aquilo não passou de um sonho; claro que são ilusões de pouca dura, mas aprecio-as quando posso. Não imaginas o quanto custa enfrentar este hoje – abrir os olhos para um mundo coberto por tons de negro e castanho, para uma paisagem em ruínas, para um sítio onde não te consigo encontrar por mais que procure. É insuportável pensar, existir. Vivo por não morrer, sonambulando pela vida como que um passageiro cujo único objectivo é ver a paisagem passar.
Tenho medo. Tenho tanto medo. De enfrentar o mundo, de encarar aquilo que já cá não está. Tenho medo de que se o faça, eu consiga continuar a minha vida sem ti, que seja capaz de seguir em frente, apesar de tudo. Não me quero separar de ti, da tua memória, do teu eu que foi outrora e que eu sei que vive, vive, ou não é comprovado pelo facto de ainda estar eu aqui. Tenho medo porque também sei, e tu que sempre me criticaste por isso, que se tudo aquilo que disse acerca da natureza do nosso ser for verdade, eu me esquecerei de ti. Mas agora, sabes, parece tudo tão irreal. É fácil falar, mas a realidade é tão diferente quando a vemos de frente.
Estás tão distante, e ainda sinto o calor da tua face. Os teus olhos brilham, por vezes mais que o Sol (penso eu muitas vezes), e vejo-os tão bem. Falta-lhes algo, porém… falta-me algo – faltas-me tu. Por mais que tente, não te consigo tocar; por mais que corra, não te consigo atingir. Porquê… não percebo. Tento uma e outra vez, tento até não mais conseguir, e não percebo.
Quero-te mais que tudo, e mais que tudo não chega. Deixem-me então viver, deambular por aí, em busca de um nada que chegue.