Voar em Terra

1 de julho de 2011

Nunca pensei que pudesse ser tão pesado, o acordar, o abrir dos olhos para enfrentar uma realidade que julguei abandonar quando os fechei, contudo a desesperança é evidente e tão alucinados pensamentos nunca tiveram lugar na minha mente, noutra altura perguntar-me-ia acerca da sua origem mas a inocência é agora uma palavra oca, digna apenas duma loucura que não encontra a sua dependência aqui. É exasperante imaginar o que imaginei, ou porventura ponderar que a sua existência é tudo menos certa, diria que surgiram lágrimas, todavia o sentimento é outro, um mais perplexo e envergonhado na sua natureza, resultante da uma simples paralisação do tempo.

Se há dias em que desgosto ser quem sou, este será um deles. Longe de solitário, certamente, este lugar estabelece-lhe precedente, a agonia de um destino incerto encontrou sempre o mesmo sabor, passado ou presente, pouco lhe interessa na sua amargura intemporal, arrastada por uma fama que insisto lembrar por motivos desconhecidos. Saberá quem é porque não faria sentido que fosse de outra maneira, embora por vezes me questione se o fará, realmente, ou se a reflexão ainda deriva para sítios incertos, longe da verdade que se impõe logo à partida.

É impossível voar, repete uma voz incomodativa, quiçá essa possibilidade ainda se estenda até aos meus pés, os ventos mudaram e gostaria de crer que não, no fim não sou eu que decido, ou talvez seja mais do que penso, é um desesperante desespero, tal como o é, e sempre foi, sentir o ar e permanecer em terra.